Templo de Ares

O cheiro forte de carne podre vinda da entrada daquele templo, era sinal que ali era o templo de meu pai, alguns urubus rondavam o alto, nas costas mantinha um saco e os olhos corriam pelo local, as filhas de Deméter não ficariam felizes em ver aquele cordeiro ensanguentado ali jogado, entrei calado, encarando tudo normalmente, porque de fato era.

Flexionei a perna esquerda e ajoelhei a direita, tinha um olhar frio e distante, coloquei o saco que carregava à frente e falei. ― Pai, deus da guerra, vim lhe fazer uma visita e trouxe algo de seu agrado, derramei o sangue de duas Mantícoras e uma Quimera a pouco, sei que a seus olhos isso é insignificante, mas trouxe algo como troféu. ― Me calei e tirei a cabeça da Mantícora e a asa de dentro do saco, ambos ensanguentados, minhas mãos estavam justas de sangue, que pingavam dos dedos, ergui novamente o olhar e retomei a fala. ― Espero que isto seja digno de te provar o quanto me sinto honrado de tê-lo como pai e espero que aceite isso como cortejo. ― Fiz silêncio, enquanto esperava algum sinal, lembrando da árdua batalha que tive contra tais monstros.

Fiquei com os olhos fixos em meu pai que a minha frente se materializou, apenes mantive os ouvidos bem abertos e meio pensativo, apenas ouvido tudo que Ares tinha para falar, aquilo parecia penetrar dentro de minha alma e fazer a fúria fluir. ― "Pedi diretamente a Quíron para que não pegasse nenhum pouco leve com você. Nada pessoal, filho.. eu apenas quero o melhor para você." ― Se sentia honrado, o sangue escorria da minha mão, limpei na perna e continuei atento.

Ares havia retirado a presa e a destruído a presa da Mantícora e unido as Garras Retalhadoras, as quais eu havia recebido de presente dele, mus olhos estavam ainda fixos e a boca silenciada, enquanto o deus voltou a falar com a tranquilidade de sempre. ― "Humano, quando você usar essa arma contra qualquer criatura viva, que não possua veneno." ― Continuei sério, me sentindo bem por ter conseguido concluir meus objetivos com sucesso e finalmente honrar meu pai, limpei a mão suja de sangue na calça enquanto ouvia meu pai ainda falar. ― "Agora vá e continue treinando, não se deixe enfraquecer e mate tantos quantos puder. Os dias de hoje são dias difíceis... Esteja preparado para o que está por vir, e nunca seja pego desprevenido." ― Logo após deu as costas e voltou a desmaterializar.

Levantei e guardei as Garras, sai dali pensativo com as coisas que meu pai havia dito, estava me sentindo mais forte que antes e mais ousado também, meu sangue ardia de forma boa de sentir e a fúria corria em meus olhos, enquanto caminhava de volta para a realidade que me aguardava.

Voltei a visitar meu o Templo de meu pai, o cheiro de carne podre ainda predominava na fachada do local, urubus ainda voavam baixo sobre a construção, de tal forma me sentia em casa e o orgulho corria meus olhos quando entrei no templo.

A maldade era visível no próprio olhar, frio e distante, voltei a me abaixar como havia feito da última vez, abri a boca e me anunciei em um tom alto e que exibia coragem. ― Pai, novamente vim lhe visitar, porém desta vez venho lhe pedir sua benção. ― Tirei um frasco de sangue de Mantícora que havia recolhido na última luta, lavei minhas mãos diante do altar e deixei o sangue pingar no chão enquanto voltei a falar. ― Sei que não foi muito sangue que derramei, mas agora pretendo derramar mais e matar todos que apareçam em minha frente, espero que me abençoe e não irei te decepcionar. ― Me calei e ainda com a cabeça erguida fitando a mesa de sacrifícios à frente.

O silêncio predominava em minha mente, realmente não tinha muita sorte para pedir benções, estava amaldiçoado sem ao menos entender porque, já que não deixou o que estava sentindo transparecer no Templo de Dionísio, os olhos estavam afundados e a vista embaçada. Sentia frio e hifas de algum fungos pareciam estar enroladas em minhas veias, de alguma maneira sugando minha energia vital. Não havia muito ao que se fazer, apenas partir. Um elmo e três adagas, uma missão com isso teria de concluir, sem contar que tinha a armadura de sempre e o escudo de madeira do acampamento, a defesa certamente estava horrível, teria que usar outros meios pra se defender, porém o que me aguardava era incerto.

Não fiz questão de responder, saí cambaleando do Templo de meu pai, certamente quanto mais o tempo passava, pior ficava. Se morresse uma certeza eu teria, que ao menos pedi a benção de meu pai, mas a força das minhas veias eram superiores as dores que sentia, me ergui, levantei a cabeça e sai dali sem falar nada. O cheiro forte dos animais mortos na fachada eram piores que antes, minhas narinas estavam sensíveis e sangue corria, limpei e me coloquei a dar passos maiores, não tão velozes, mas que foram suficientes pra desaparecer na neblina.