Entrada do Submundo

A entrada para o Submundo é em uma caverna com uma entrada pequena e insignificante, perto das letras que escrevem ‘Hollywood’. Sua entrada é tão pequena que é preciso ir engatinhando, antes dela se alargar aos poucos a ponto de ser possível caminhar. Luzes de lanterna são inúteis e a escuridão é muito densa. O único lugar possível de se ver alguma coisa é próximo aos portões, onde dos muros que impedem a passagem dos visitantes arde um fogo incomum e pode-se ver uma paisagem de plantas semi-mortas, lápides e cinzas. De dentro do portão podia-se ouvir sons agonizantes e gritos desesperados.

Escrito no portão de ferro em uma letra rebuscada, havia os seguintes dizeres:


Assim que se ignora o aviso e adentra os portões de ferro que, incrivelmente, parecem muito leves, desce uma trilha em direção a um pequeno porto onde o Barqueiro, Caronte, espera pelas visitas que desejam atravessar o rio da dor, Aqueronte. Este apenas leva aqueles que pagam para atravessar.

Cérberus aguarda os novos visitantes do outro lado, feliz. Um cão de três cabeças e cauda de dragão que patrulha a região para impedir a fuga de almas, criaturas ou mortais que tentem sair sem a permissão de seu mestre, Hades.

Sentia seus pés protestando pelo esforço. Não estava acostumada com aquele tipo de exercícios físicos. Mas nem por isso diminuiu a velocidade de sua corrida, nem mesmo quando sentiu que seus pés começavam a sangrar e seus olhos marejaram pela dor.

Não iria desistir agora, justo quando conseguira escapar de Hades. Só precisaria chegar até o barqueiro e convencê-lo de lhe levar ao outro lado. Se saísse dali, tinha certeza de que conseguiria encontrar um de seus irmãos e acabar com aquele pesadelo.

Avistou o Rio Aqueronte ao longe, teve que convencer seus joelhos de permanecerem firmes, senão não conseguiria chegar ao seu objetivo. Agarrou as saias com mais afinco e correu...correu com todas as suas forças. Até bater em algo.

Franziu a testa. Não tinha visto essa pilastra. Como era desastrada.

Deu a volta para passar pela pilastra e ela se mexeu.

- Mas que droga... - levantou os olhos para ver o que tinha de errado e teve que sufocar um gritinho. Um cachorro, enorme, de três cabeças, a encarava, babando, como se fosse um delicioso petisco de carne.

Perséfone recuou, assustada, esticando os braços na frente do corpo para tentar estabelecer alguma distancia entre os dois.

Nunca desejou tanto ser uma guerreira como agora.

Assim que chegou na entrada de seu castelo, chamou os morcegos que habitavam sem problemas o seu reino para procurarem por Perséfone. Precisava encontrá-la o mais rápido possível antes que Cérberus...

Cérberus...

A preocupação foi maior que fúria pela fuga dela. Cérberus não teria piedade alguma, independente dos motivos dela estar tentando fugir. Ninguém saía de seus domínios sem ser barrados - ou devorados - por seu fiel mascote. Voltou a materializar-se para poder chegar em Cérberus antes que eles pudesse fazer algum mal a sua frágil Perséfone.

Não era difícil de localizar as criaturas que viviam em seus domínios, apenas aquelas que não pertenciam, como Perséfone. Quando materializou-se, próximo de seu mascote - já que era fácil de sentí-lo - pegou a cena temida. Perséfone estava aos pés de sua enorme besta de estimação e Cérberus arreganhava os dentes, prestes a morder e ferí-la gravemente. Não pensou antes de atirar-se em proteção de Perséfone, ficando em frente as enormes bocarras de seu monstro.

Fez um escudo de sombras antes que os dentes penetrassem sua carne, o que fora por pouco.

- Pare, Cérberus! - ordenou, quando conseguiu pegar fôlego da corrida contra o tempo para salvá-la.

Respirou fundo, enquanto ouvia as patas maciças de seu cão infernal irem se afastando, enquanto mantinha Perséfone segura entre seus braços, tentando respirar e readquirir sua calma. Porque ela tinha sido perdida, assim que acordara.

No desespero de fugir, acabara por tropeçar nas próprias pernas, caindo no chão estatelada. O que não lhe dava grande vantagem na fuga.

Se encolheu, na esperança que sua carne divina fosse um pouquinho mais difícil de mastigar que a carne mortal ou pelo menos que tivesse um gosto bem pior. E estava quase resignada ao seu destino nada agradável quando escutou a voz de Hades próximo ao seu ouvido.

- Pare, Cérberus!

Se sobressaltou e abriu os olhos.

De onde ele tinha saído?

Ao seu lado, lhe protegendo com o próprio corpo, estava Hades, o Deus responsável pelo submundo, com um escudo de sombras a sua volta.

- H-Ha-Hades...? - estava tão assustada de encontrá-lo ali, que não conseguiu esboçar reação alguma.

Enquanto ainda se concentrava em sua respiração para acalmar seu coração que batia num ritmo frenético. Então, em meio a sua forçada respiração lenta, ouviu o murmurar fraco...

- H-Ha-Hades...?

Com muito custo, retornou o olhar para trás, observando-a encolhida contra o chão estéril e pedregoso. Ela estava cheia de arranhões e seus pequenos pés sangravam. Em alguns instantes, encontrava-se já ajoelhado em frente a ela, abraçando-a contra si e enterrando seu rosto nos cabelos. O cheiro doce lhe preencheu inteiramente o sentido do olfato e toda a adrenalina conseguiu se esvair rapidamente.

Por um curto, breve momento, sentiu que perderia a vida que mais prezava. Fora uma sensação horrível, com certeza. Agora, mais calmo, a sua fúria tinha aflorado com toda a força.

- O que você pensa que esta fazendo, Perséfone? - sua voz normalmente grossa, era ameaçadora agora que tinha uma nota enfurecida. Afastou um pouco dela, para olhá-la nos olhos com o brilho furioso - Achou mesmo que conseguiria sair a pé, sozinha pelo meu reino sem que eu soubesse?

Em alguns instantes, encontrava-se já ajoelhado na frente dela, abraçando-a contra o corpo e enterrando o rosto em seus rosto nos cabelos. Fora algo tão inesperado, tão súbito, que Perséfone nem sabia onde colocar as mãos. Apenas ficou ali, sendo abraçada e se controlando para não chorar. Chorar de medo, de frustração, de ter seus sonhos tirados por entre seus dedos, sendo que estava tão próxima da liberdade.

Não sabia se conseguiria outra vez, estando fraca e faminta como estava. Começava a definhar de fome e sua frustrada fuga, gastara mais energias do que poderia repor sem comer nada.

- O que você pensa que esta fazendo, Perséfone? - sua voz normalmente grossa, era ameaçadora agora que tinha uma nota enfurecida. Afastou-se um pouco, e a encarou com um brilho furioso no olhar- Achou mesmo que conseguiria sair a pé, sozinha pelo meu reino sem que eu soubesse?

Se encolheu, assustada. Não teria como argumentar. Fora pega tentando escapar, correndo como uma louca em direção a saída do submundo, não podia desmenti-lo. Então, simplesmente, esticou os braços para tentar afastá-lo de seu corpo.

- Me solta Hades...-disse com a voz chorosa.

- Essa foi a última desobediência que tolerarei, Perséfone. Vou trancá-la no quarto até que aprenda quem manda e quem obedece. - as lágrimas que lhe escorriam pelos olhos não o comoviam. Sua fúria o deixara cego.

Quando a tinha perdido, pelo pouco que tinha conseguido observar no seu alívio, ferira-se durante a corrida para a entrada de seu reino - e única saída também. Já estava frágil pela recusa a comer e exauria suas poucas forças em atos impulsivos.

Sua fúria só foi aplacada quando a terra tremeu levemente e algo extremamente pesado pareceu cair ao lado dos dois. Ao olhar, Cérberus, seu fiel mascote, tinha as orelhas abaixadas e o observava como uma criança que tinha feito algo errado. Suspirou, mantendo um braço em volta dela e mantê-la próxima, enquanto a outra se erguia para acariciar uma das enormes cabeças.

- Acalme-se, meu amigo. Você não fez nada errado... perdoe-me por não ter-lhe avisado que esta era apenas para me devolver e não devorar. - falou carinhosamente para seu mascote.

A terra começou a tremer novamente enquanto sua calda, parecida com a de um dragão, começava a balançar freneticamente e bater contra a terra, enquanto lhe acariciava. Assim que parou, ele se levantou, aproximando as narinas dela e a farejando até parecer satisfeito e observou seu mestre, esperando por mais alguma coisa.

- Pode ir, Cérberus. Continue se divertindo com os fugitivos e recepcionando os novos moradores. - lhe disse e ele saiu correndo para fazer o pedido. Observou seu cão desaparecer, era um dos poucos que lhe eram realmente confiáveis. Porém, seu humor mudou drasticamente ao se voltar novamente para Perséfone - Agora, ao seu castigo. - falou friamente, pegando-a no colo e se levantando do chão e retornando ao castelo.

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Apareceu de frente a Deméter, como havia lhe sido falado, não com o melhor dos humores. Seus olhos demonstravam seu desgosto pela entrada de sua irmã em sua casa, sem qualquer permissão, sem contar estar prendendo seu fiel mascote, Cérberus, em sua própria casa.

Porém, a visão de Deméter era ligeiramente preocupante. De seus olhos vertiam lágrimas esverdeadas e não parecia dentro da sanidade que deveria. Imaginava que algum tipo de desordem mental ela teria ao ter sua filha levada, mas não imaginava que chegasse a extremos.

- O que deseja, Deméter? - perguntou, assim que materializou-se por completo - A que devo a honra de sua visita em meus campos estéreis e sem vida? - seus olhos azuis, quase brancos de tão claros a encaravam com frieza e uma determinação metálica, apesar da sua voz macia e bem educada, friamente calculada.

Por mais que Deméter tentasse esconder, era perceptível que estava enfraquecida pelos seus terrenos áridos. Diferente da filha, que não era tão ligada a terra, Deméter era a personificação do solo. Precisava da vida, algo que seu mundo não podia lhe oferecer... talvez apenas um lugar ela se sentiria um pouco melhor.

Os Campos Elíseos lhe deixariam um pouco mais a vontade, já que possuía mais vida que o restante de seu reino. Seu ato maternal conseguira lhe comover para cogitar em trazer sua amada Perséfone para a mãe e alimentá-la fora de seus portões.

Porém, isso ia contra seus planejamentos. Ele queria Perséfone e, uma hora, ela aceitaria comer alguma coisa e a prenderia. Se dessem comida pelo lado de fora, poderia acontecer duas coisas: ela poderia escapar ou ela se fortaleceria e continuaria a se negar a comer, porque sabia que viria alguém lhe dar comida.

No fim, a decisão era clara: Perséfone não sairia do quarto, nem do castelo e muito menos do seu reino.

- Darei a comida que lhe oferece de bom grado, irmã. - sorriu de lado - Apesar de não ser aconselhável, estou certo...? Até a grande Deusa Deméter deve saber que qualquer coisa que minha doce Perséfone colocar na boca, estando no meu reino, selará seu destino a mim, para sempre. Independente de quem lhe tenha entregado. Sendo assim, Persefone permanecerá em meu castelo, intocada. - sentenciou, sem nenhum remorso aparente na voz indiferente.

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OFF: Sorry a demora no post, entrei de manhã e vi, mas fui fazer algumas coisas no fórum e não deu tempo de terminar para postar. u.u

Eu estava pressentindo o que algo estaria errado, no olimpo as coisas começavam a ficar caóticas, não estava entendendo o porque que o clima estava mudando tanto, não hesitei e logo pensei em Deméter, vi que ela não estava em "nosso mundo" logo ... estaria aprontando no mundo inferior, fui mais do que depressa para lá.

Chegando ao submundo...

Se fez um clarão, o lugar todo entrou em ascensão. freixos de luz se espalhavam por todo Hades, logo me deparo com Deméter semi-morta , Hades com uma ceia em mãos na frente de seu castelo. Não me contive e minha fúria subiu a cabeça.

- Hades ! - Gritei indo a frente dele e detonando a cesta que ele tinha em mãos - - Você conhece o nosso trato e eu não i impedirei de faze-lo, mais Perséfone precisa comer, ela precisa sair de lá se não você a matará, e se isso acontecer.... ja sabe as consequências.-Me voltei para Deméter com fúria, disse algo para ela e a agarrei, ela estava se despedaçando pouco-a-pouco, então a peguei em meu colo e mais um freixo de luz se formou, eu subi para o Olimpo.

De uma hora para outra seu mundo acinzentado e lúgubre foi invadido por um intenso clarão e de seus negros céus veios de luz brilhantes se espalhavam por todos os lados. Aquilo só poderia significar...

Zeus.

E ali, como se convocado por seu pensamento, seu irmão caçula materializou-se ao lado da pobre Deméter. Ele possuía uma péssima mania de chegar teatralmente aos locais, fazendo tempestade, literais, a sua chegada.

- Hades! - exclamou assim que pisou em suas terras e, sem mais nem menos, destruiu todo o esforço de Deméter que estava em suas mãos em milissegundos - Você conhece o nosso trato e eu não o impedirei de fazê-lo, mas Perséfone precisa comer, ela precisa sair de lá, se não você a matará, e se isso acontecer... já sabe as consequências. - disse em tom de aviso.

Logo depois, falava alguma coisa aos ouvidos de sua irmã e pegou nos braços. Poderia sentir pena de seu estado tétrico em uma busca infrutífera pela filha, porém tudo que fez foi observá-los indiferente e desaparecerem num novo clarão de luz e uma estrondosa trovoada.

Matar Perséfone de fome, que bobagem, pensou ao ver o sumiço de seus irmãos. Cérberus, liberto das raízes de Deméter, se chacoalhou por inteiro e rosnou, contrariado por ter sido preso.

Agora, onde havia parado mesmo? Ah, sim, estava no meio da alimentação de Perséfone e perguntando-se o motivo dela estar tão obstinada a não comer. Seria porque sabia as consequências? Não era possível... quase ninguém no Olimpo falava a respeito dele...

Desapareceu, retornando para o quarto de Perséfone, ainda remoendo as falas dos irmãos.

Eram apenas bobagens, foi o último pensamento, obstinado.

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