Corredores

Os corredores que se estendem por todo o castelo são quase um labirinto. Principalmente pela falta de adornos que os diferenciem entre si, dificultando uma clara direção para onde está caminhando.

O piso e as paredes são feitas de pedra negra, lisas e reluzentes quando as luzes dos candelabros são tocadas e refletidas. Regularmente, uma coluna bem decorada se ergue para manter a estrutura do castelo firme. Portas dão para diversas salas, algumas totalmente inúteis por anos, séculos ou mesmo milênios a fio já que são poucos os habitantes do castelo.

As sombras ao redor começaram a se movimentar estranhamente... tornando-se cada vez mais sólido, mais denso. O corredor, antes silencioso e aparentemente inabitado, agora parecia um redemoinho de movimento cada vez mais intenso das sombras.

Uma forma humana pode ser divisada após alguns segundos. Um homem alto de cabelos negros e compridos, vestindo um manto negro que parecia tão etéreo quanto as sombras que dominavam o local.

Com passos macios e silenciosos, caminhou pelos corredores, procurando... sentindo. A frieza do ambiente era quase idêntica a do mármore negro que encobria o piso, mas naquele momento, não... ele podia sentir, enquanto passava a mão pelas paredes de cor acinzentada.

Calor. Seu castelo sempre acostumado a solidão de seu mestre agora parecia pulsar com a atividade frenética de uma nova presença.

Sua Perséfone.

Era assim que a chamava desde que tinha lhe trazido contra a vontade até sua morada.

A fragrância de sua juventude o seduziam, guiando-o pelos extensos corredores. O calor de sua presença ficava cada vez maior, conforme sabia se aproximar.

- Perséfone... - chamou com a voz grave, mas com um toque de ternura, enquanto continuou a se aproximar. - Minha doce Perséfone... porque ainda foges de mim?

Apressou o passo. Não importava o quanto corresse ele sempre a encontrava, era como se pudesse se guiar pelo ar, paredes, ou até mesmo seu calor.

Era Assustador...totalmente assustador, tudo ali era assustador. Ele, o castelo, o modo como se movia, tudo.

Queria tanto sair dali. Voltar pra sua mãe, pros seus irmãos, pro Olimpo. Ver as flores e os jardins que não tinham no submundo.

- Perséfone... - chamou com a voz grave. - Minha doce Perséfone... porque ainda foges de mim?

Se encolheu de medo.

Droga! Ele estava perto.

Puxou a barra do vestido e correu mais rápido. Não podia deixá-lo encontrá-la. Ele era louco, nutria um amor excêntrico por ela, que não entendia de onde tinha tirado.

Na sua correria silenciosa passou por uma porta aberta e se apressou em entrar. A fechou com delicadeza para não fazer qualquer barulho e se apiou contra ela, ouvindo os passos do outro lado.

...ele se aproximava...

O calor ficou mais intenso, indicando seu acerto no caminho. Por alguma razão, aquela brincadeira de pique-esconde era animadora, apesar de tudo. Não importava quantas vezes ela tentava fugir e se esquivar de sua presença, simplesmente era impossível não sentí-la.

Passou por uma porta, seus dedos deslizaram e percebeu a pulsação frenética do coração jovem e ingênuo de sua amada. Sorriu, produzindo pés de sombras que continuaram a caminhar em frente, enquanto conseguia ouvir um suspirar aliviado atrás da porta.

Não imaginava que conseguisse se cansar daquela brincadeira. Fundiu-se a porta, praticamente a transpassando, condensando sua forma sombria do outro lado logo atrás de Perséfone e a abraçando.

- Encontrei. - sussurrou em seu ouvido.

Seus olhos se fecharam, sentindo aquele calor morno, aquela vida que a tantos séculos havia perdido. Sentia entre os dedos a perfeição de sua adorada Perséfone, desde os cabelos até os pés. E ela seria somente dele, para sempre.

Suspirou aliviada quando ouviu os passos se afastando de onde estava. Pela primeira vez desde que chegara ali, três dias antes, conseguira enganá-lo.

Mas seu alivio demorou o tempo de seu suspiro. Quando foi se afastar da porta, algo lhe segurou, lhe imobilizando num abraço sufocante.

- Encontrei. - Perséfone sufocou um grito de pavor quando percebeu de quem era a voz.

Como? Como ele a tinha encontrado? - sentiu os olhos lacrimejarem de desespero.

Tentou se desvencilhar com todas as forças que ainda lhe restavam. Três dias sem comer nada estavam lhe esgotando de uma maneira que não imaginava que os Deuses poderiam se desgastar.

- Me solte Hades! Me solte! - se debateu com mais força.

Em pouco tempo, ela começou a se debater em seus braços, lembrando-lhe o que viera fazer para acabar novamente no joguinho de pique-esconde. Seu tesouro inestimável precisava comer e se recusava desde que a tinha lhe trazido para seus domínios.

- Me solte, Hades! Me solte! - ela exclamou e assim o fez, vendo-a dar alguns passos para frente e se afastar.

Suspirou, enquanto via os olhos brilharem numa mistura de sentimentos indefinível para si. Seu belo rosto já tinha pequenas, talvez ainda um pouco ínfimas, mostras de que não se alimentava direito. Sua força, quando tentava se desvencilhar, havia diminuído também.

- Porque me olha com tamanha repugnância? - perguntou, se aproximando, porém, ela se afastava na mesma proporção. - Não lhe farei mal algum e não deixarei que nada lhe fira... então, porque? - seu olhar demonstrava ternura e um pouco de tristeza, preocupação. Ressentimento, até.

Não queria muito. Apenas seu amor, seu carinho, sua atenção... era tudo o que implorava dela. Era tudo o que necessitava... poderia lhe tirar a alma, poderia obrigá-la a permanecer ali para sempre, comendo um dos frutos de seu reino amaldiçoado. Mas somente precisava daquilo que seus irmãos lhe privaram desde que chegara aquele mundo. Era tudo.

Perséfone quase caiu quando ele a soltou. Não esperava de verdade que ele acatasse suas ordens. Não com tamanha prontidão.

Recuperou o equilíbrio com alguma dificuldade e se virou surpresa em sua direção, apenas para se chocar ainda mais com a expressão de dor estampada no rosto de Hades.

- Porque me olha com tamanha repugnância? - seu sangue gelou nas veias. - Não lhe farei mal algum e não deixarei que nada lhe fira... então, porque? - Ela que perguntava o porque...Porque ele tinha que ter aquele ar infantil quando se referia a ela? Ele não era o temível senhor do submundo?? Se fosse cruel ou gritasse com ela, seria muito mais simples de odiá-lo.

-Hades por favor, eu só quero voltar pra casa. Pro Olimpo. Para junto de minha mãe. - juntou as mãos na frente do peito. - Humildemente, eu lhe imploro. Me deixe voltar. - baixou os olhos antes de ver sua reação. Tinha medo que ele surtasse com ela, que não cumprisse sua palavra e acabasse por lhe machucar.

- Hades, por favor, eu só quero voltar pra casa. Pro Olimpo. Para junto de minha mãe. - seus olhos de azul tão claro que pareciam quase brancos pareceram brilhar de frieza a menção, mesmo subentendida, de Deméter. Zeus havia lhe prometido sua adorável Perséfone e não era aquela megera a lhe tirar seu precioso tesouro. - Humildemente, eu lhe imploro. Me deixe voltar.

Porque sempre o impossível, Perséfone? Porque não um jardim de flores? Um quarto mais colorido? Apenas franziu o cenho, e virou-se bruscamente para a porta, sua capa fazendo um pequeno círculo esvoaçante até retornar ao chão.

- Não. - falou tácito - Você pode ter tudo o que quiser, menos isso. Aqui é o seu lar e aqui ficará para sempre.

- Não. Você pode ter tudo o que quiser, menos isso. Aqui é o seu lar e aqui ficará para sempre.

Olhou para as costas dele incrédula. E aos poucos sentiu o sangue lhe fervendo as veias, demorou algum tempo para reconhecer a sensação de raiva, totalmente nova. Não costumava ser uma pessoa temperamental ou tempestuosa. Era conhecida por ser calma, gentil e amável. Mas qualquer um sairia do sério com alguém tão impassível quanto Hades.

- Aqui não é minha casa, Hades. E nunca será!! - disse alterada. - Não quero ficar! Não vou ficar! Se continuar a me prender, morrerei de fome, pois me recuso a comer algo do submundo e me trancar aqui pra sempre!

- Aqui não é minha casa, Hades. E nunca será! - pela primeira vez, desde que tinha começado a observá-la de seu recôndito mundo inferior, ela alterou a voz - Não quero ficar! Não vou ficar! Se continuar a me prender, morrerei de fome, pois me recuso a comer algo do submundo e me trancar aqui pra sempre!

Por alguns instantes sentiu a confusão, a dor das palavras que lhe eram proferidas em fúria. Sua amável e dócil Perséfone pareceu tomar contato com a ira, além da tristeza e do medo. O que estava fazendo a sua amada? Desde seu rapto, tudo que conseguira fora produzir sentimentos que ela jamais sentiu antes de conhecê-lo pessoalmente.

Fechou o punho, indignado com os próprios pensamentos. Ela era sua e ninguém mais a teria além dele.

Ela aprenderia amá-lo, assim como ele. Não importava o tempo que levasse.

- Que assim seja, Perséfone. De todas as formas, você será minha, ou talvez você tenha se esquecido do Reino ao qual sou dono? - perguntou com certa frieza, sem virar-se para ela.

Ela não sairia dali. Estava decidido.

- Que assim seja, Perséfone. De todas as formas, você será minha, ou talvez você tenha se esquecido do Reino ao qual sou dono?

Sua fúria esfriou tão rápido quanto tinha chegado, lhe deixado um vazio dolorido no peito.

Não sairia dali? Não voltaria a ver sua mãe e irmãos? Mesmo que morresse não teria, a tão sonhada, liberdade? Quão cruel poderia ser seu destino?

Sentiu os olhos se encherem de lagrimas e não conseguiu impedi-las de rolar livremente por sua face.

-Eu te odeio Hades...-disse num sussurro abafado por um soluço. - Eu realmente o faço...

O fato de nunca ter dito tais palavras a alguém, em toda a sua eternidade, fazia com que tornasse tudo mais doloroso. Ódio era um sentimento cruel para os dois lados. Não estava em sua natureza dócil odiar alguém e saber que lhe causava dor com aquelas palavras não lhe fazia se sentir nem um pouco melhor.

Veio o silêncio e o ar pareceu pesar como uma mortalha, algo que sentia com muita frequência, já era comum.

Ainda assim, quando se tratava de Perséfone, até o mais corriqueiro parecia ser uma tempestade, uma surpresa inovadora.

- Eu te odeio, Hades... - ouviu sua voz apagada pelo choro, ainda quase sendo abafada integralmente por um soluço. - Eu realmente o faço...

Porque você não pode facilitar as coisas, Perséfone...?, pensou de coração partido, ainda que decidido a não retornar atrás de sua decisão.

Virou-se, vendo o rosto infantil de sua adorada lavado em lágrimas que antes só se faziam quando em máxima alegria. Seria ele incapaz de produzir a felicidade, condenado a ouvir o lamento desesperado dos mortos? Não queria lhe causar a dor, mas ela parecia obstinada a contrariá-lo. Aproximou-se silenciosamente, pousando suas mãos sobre a face juvenil e limpando as lágrimas quentes que percorriam-lhe o rosto.

- Se seu ódio é tudo o que posso ter, minha amada Perséfone... - ele disse, olhando-a nos olhos devotamente, ainda que resignado - Eu o aceitarei. Agora venha, está na hora da refeição.

- Não quero comer! - desviou das mãos dele com um movimento brusco. - Não vou comer Hades! - se afastou e bateu os pés num gesto infantil. - Não quero sua companhia, nem sua comida! Quero ficar no quarto, no MEU quarto, e sozinha! - franziu a testa e fez um beicinho, digno da mais revoltada teimosia de uma criança de cinco anos.

Cruzou os braços para parecer mais séria.

Poxa, sua mãe sempre dizia que parecia uma criança quando ficava emburrada, mas não sabia como fazer isso sem parecer infantil.

Em pouco tempo, o que era um choro desconsolado e cheio de sentimentos vis, foi trocado por...

Birrinha.

- Não quero comer! - ela desviou de suas mãos com um movimento brusco, afastando-se de cara emburrada. - Não vou comer, Hades! - retornou a dizer, para enfatizar, afastando-se ainda mais e depois bateu os pés, num gesto infantil. - Não quero sua companhia, nem sua comida! Quero ficar no quarto, no MEU quarto, e sozinha!

Por um momento, incontrolável, seus lábios se curvaram a imagem dela emburrada a sua frente como uma criança e poderia até mesmo ter lhe dado tal mimo, se não considerasse a companhia dela tão importante. Porém, não queria contrariá-la ainda mais e nutrir seu ódio recém-descoberto. Um coração tão puro não deveria ter isso...

Hades, por favor, eu só quero voltar pra casa. Pro Olimpo, ressoou a voz infantil dela em sua mente com a resposta a todas às suas contradições.

- Como seja de seu desejo. Porém, enquanto se recusar a me acompanhar nas refeições, não lhe deixarei ver o que ocorre além dessas paredes, além dos meus domínios. A escolha é sua, Perséfone. - deu as costas para ir até a porta - Devo guiá-la até seus aposentos? - perguntou cortes, enquanto abria a porta e a deixava aberta, observando-a altivo.

- Como seja de seu desejo. Porém, enquanto se recusar a me acompanhar nas refeições, não lhe deixarei ver o que ocorre além dessas paredes, além dos meus domínios. A escolha é sua, Perséfone. - deu as costas para ir até a porta. O que ele queria dizer com isso? Ela tinha esta opção? - Devo guiá-la até seus aposentos? - perguntou cortes, enquanto abria a porta e a deixava aberta, observando-a altivo.

Deu um passo em direção a ele.

- Vai me deixar ver minha família? - o encarou esperançosa. - Se eu te acompanhar, me deixará sair?

Por favor, diga que sim, por favor...-rezou sozinha. Num futuro distante poderia rir dessa ironia, uma deusa, rezando, mas agora, tudo que queria era que ele a libertasse. Até concordaria em se juntar a ele em uma refeição se em troca tivesse sua liberdade.

Ela era tão ingênua, enquanto lhe encarava com aqueles olhos cheios de esperança. Eram tão bonitos...

- Se eu te acompanhar, me deixará sair? - suas pequenas e delicadas mãos união-se sobre o peito, numa adorável espera ansiosa por sua resposta.

- Não, apenas os verá. É o que lhe concederei, por agora, pequena. - respondeu com certa ternura.

- Não, apenas os verá. É o que lhe concederei, por agora, pequena.

Sentiu o coração se apertar novamente, numa angustia que não conseguia transformar em palavras.

Não iria sair dali. Nunca.

Mas poderia vê-los. Isso era algo. Talvez suavizasse sua dor, sua saudade. Se os visse bem, talvez se sentisse melhor. Por ora, era tudo que conseguiria dele. Sabia disso.

-En-então...eu acho que...que está tudo bem. -se aproximou - Mas não irei comer. - deixou claro. Sabia que se alimentasse da comida do submundo estaria consentindo em permanecer ali e estaria presa pra sempre nas garras de Hades. Suas façanhas eram conhecidas no Olimpo, o que fazia com que o temesse ainda mais.

Aproximou-se, pela primeira vez, voluntariamente de si. Partia-lhe observar seu rosto juvenil portando expressões tão tristes, mas era isso que lhe concederia, nada mais. Se para mantê-la próxima seria necessário fazê-la sua prisioneira, que assim fosse.

- Não gostaria que fosse desse jeito, mas sua companhia já me é muito querida. - respondeu calmamente, enquanto lhe pegava pelas mãos e a guiava para a Sala de Jantar.

Fez uma careta infantil quando ele lhe segurou a mão. Poderia ter rechaçado facilmente o contato, mas não queria arriscar a chance de ver sua família, seja lá como ele pretendia fazer isso.

Ele era doentio. Como sua companhia podia ser querida se ela nem ao menos apreciava a presença dele? Seria ele masoquista? Pois esse seria mais uma razão para não darem certos juntos, ela não apreciava a dor alheia.

Devagar, deixou que a guiasse até a sala de jantar.

Seria uma longa noite, na qual seu estomago falaria mais que sua boca.

Baixou os olhos tristonha. Ai, como queria voltar pro Olimpo.

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Pra não perder a sequencia... u.u quando isso ficar uma suruba de posts... u.u

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- Sofro o tormento de sentir.

Isso tinha cara de outra coisa e ele não ia negar isso.

- Acho que já o sofria com menos intensidade pouco antes de desejar Perséfone como minha... mas depois que ela veio para cá, tudo tornou-se bem pior.

- Entendo... – disse de forma pensativa.

- Isso não pára de contradizer meu raciocínio lógico, influencia nos meus princípios, tem me tirado o sono tranquilo e atrapalhado meu trabalho. Tentei diversas vezes sufocá-lo, mas não consigo. Não sei mais o que fazer...

- Estranhamente suas palavras fazem algum sentindo pra mim... – ele observou o irmão e o trouxe para mais perto – Mas é claro, o caçulinha está é com medinho de perder a esposa pra alguém do Olimpo! – ele riu e soltou o irmão. Sabia que isso seria quase impossível visto que Demeter havia quase colocado a menina numa prisão celestial, mas de qualquer forma – Você está passando pela mesma crise que eu tive quando Amphitrite se escondeu de mim! – disse orgulhoso.

Normalmente Poseidon não ligaria para a cara de mau humor de Hades, mas essa lhe incomodava profundamente quando não era por sua causa. Afinal definitivamente não dava para ter uma conversa longa com Zeus sem que algo saísse destruído...

- Estranhamente suas palavras fazem algum sentindo pra mim... - olhou enviesado para Poseidon quando este lhe aproximou mais, através do braço que passava por seus ombros. - Mas é claro, o caçulinha está é com medinho de perder a esposa pra alguém do Olimpo! - depois riu, fazendo-o revirar os olhos.

Não sabia até que ponto Poseidon utilizava aquele tipo de palavreado tão depreciativo para irritá-lo ou se era o jeito dele de falar mesmo. Não tivera muito interesse em estudá-lo e achava que, naquele momento, seria de muita valia. Porém, agora teria de engolir aquilo, devido a sua falta de conhecimento. A única coisa que sabia de concreto é que ele era tão temperamental quanto Zeus e devia entender como funcionava esses sentimentos muito melhor do que ele.

E o que ele queria dizer com aquilo? Que sentia Ciúmes? Do que? Das paredes invisíveis que Deméter tinha construído para tornar Perséfone inatingível?, pensou com sarcasmo, mas ao imaginar a cena dela correndo para os tantos sobrinhos, o sarcasmo desvaneceu.

- Você está passando pela mesma crise que eu tive quando Amphitrite se escondeu de mim! - ergueu a sobrancelha, admirado com tal observação, principalmente o... 'orgulho'...? Que ele demonstrava.

Tentou puxar da mente o ocorrido na época. Porém, só se lembrava vagamente que Poseidon tornou-se fechado e só retornou ao temperamento de sempre quando Amphitrite retornara...

De certo que se Perséfone retornasse, acreditava que voltaria ao normal novamente... ou, ao menos, o que era normal para ele.

- Retirando o fato de eu saber onde Perséfone se encontra no momento e que ela terá de retornar a mim no próximo Outono, parece uma situação parecida... - falou pensativo - E o que fez para Amphitrite retornar? - será que ele conseguiria fazer algo parecido para que Perséfone fosse até ele antes desse espaço ridiculamente enorme de tempo? Nunca imaginou que apenas 6 meses fossem tão longos e terríveis de esperar.

- Retirando o fato de eu saber onde Perséfone se encontra no momento e que ela terá de retornar a mim no próximo Outono, parece uma situação parecida... E o que fez para Amphitrite retornar?

Ele parou pensativo e por fim completou com pensamento alto.

- Acho que golfinhos persuasivos não vou te ajudar nesse momento. – por fim voltou-se ao irmão – O que você estava fazendo de bom para corteja-la?

Ele praticamente não acreditava que havia usado a palavra “cortejo” numa conversa com seu irmão ali presente. O senhor dos mares na verdade não acreditava no tipo de conversa que ele estava tendo, por que as vezes ele tinha que ser tão...sentimental?

O que ele fazia para cortejá-la? O plano desde o começo fora bem simples...

- Aprisionando-a em meu castelo e monopolizando sua atenção apenas para mim. - respondeu extremamente objetivo, como se aquilo fosse muito óbvio.

- Aprisionando-a em meu castelo e monopolizando sua atenção apenas para mim.

Ele se adiantou e parou na frente do irmão o encarando com a sobrancelha erguida.

- Espera, o que disse? – Poseidon re-ouviu as palavras do irmão e bateu com a palma da mão na própria testa. O caçula realmente não tinha noção de como cortejar uma mulher – Agora entendo porque seus semi-deus são uma raridade... – disse encarando Hades de forma seria.

Ele segurou firme o rosto do irmão olhando no fundo dos olhos. É, Hades estava mais morto que normalmente costumava ser.

- Hades meu irmão, o segredo para ter uma mulher é conquistar sua admiração. Não sua atenção... – ele soltou o irmão e o fez continuar a andar – Eu podia muito bem rastrear Amphitrite e visita-la pessoalmente...afinal ela estava no meu território. Fiz isso? NÃO! Ao invés disso lhe mandei recados amorosos através dos Dolphins. – gesticulou orgulhoso da própria história – Por que não faz o mesmo?

Ele parou por um tempo e refletiu, talvez mandar almas penadas para Persefone não fosse uma boa.

- Mas sem a parte de mandar alguma criatura daqui... – completou para não dar chance da inocência de seu irmão cogitar essa possibilidade.

- Espera, o que disse? - perguntou novamente, após lhe barrar a caminhada. Poseidon não era surdo até onde sabia, mas se ele tinha pedido...

- Aprisionando-a em meu castelo e monopolizando sua atenção apenas para mim. - repetiu automaticamente as palavras, como se continuasse a ser algo óbvio. Logo que terminou, ele bateu com a mão na testa. O que tinha falado de errado?

– Agora entendo porque seus semi-deus são uma raridade... – disse encarando-o de forma séria. Se não fosse por isso, levaria como implicância do irmão. Nem quando estava lhe dando conselhos de conquista ele perdia a chance.

Primeiro, porque eles três não podiam fazer filhos devido ao acordo. Segundo, porque ele sabia conquistar uma mulher, sim, mas com Perséfone...

Com Perséfone...

Abaixou a cabeça e os olhos. A dor sempre vinha quando pensava nela diretamente. E não conseguia pensar em nada além disso desde que tinha lhe deixado no Olimpo. De repente, sua existência tinha se tornado uma tortura terrível.

Assustou-se quando o irmão obrigou-o a olhar diretamente em seus olhos, algo que ele nunca fizera antes, nas poucas vezes em milênios que tinham chegado a conversar.

- Hades meu irmão, o segredo para ter uma mulher é conquistar sua admiração. Não sua atenção... - ele logo o soltou, retornando a caminhar, seguindo-o - Eu podia muito bem rastrear Amphitrite e visita-la pessoalmente...afinal ela estava no meu território. Fiz isso? NÃO! Ao invés disso lhe mandei recados amorosos através dos Dolphins. Por que não faz o mesmo?

Fazer o mesmo? Não lhe parecia muito romântico mandar almas penadas para dar recadinhos a Perséfone... nem gárgulas, ou cães infernais e não conseguia encontrar criatura alguma em seu reino que não fosse agoniante, horrendo ou, no mínimo, feio.

Mas o irmão tinha muito mais experiência, em se tratando de outra Deusa... imaginava... apesar de Amphitrite ser uma Nereida. Bem, ainda assim, ele tinha mais experiência em conquistar uma mulher para ser uma esposa do que ele. Isso era um fato. Se ele dizia que funcionava...

- Mas sem a parte de mandar alguma criatura daqui... - ele complementou pouco depois. Ah, fazia mais sentido.

- E o que você dizia nos recados? - já tinha pensado em fazer isso, apesar de ainda achar mais efetivo se pudesse raptá-la novamente e lhe dar o recado pessoalmente. Mas Poseidon já tinha vetado a ideia de ir ao encontro de Perséfone para o mesmo fim. Ele ia ter que inventar um outro método... sem contar que tudo que pensava parecia meio vazio... ele utilizava palavras bonitas, mas sem conteúdo algum. Agora que tinha conteúdo verdadeiro, as palavras lhe fugiam aterrorizadas. A sua existência não poderia ser tão complicada...