RP Passado: Maldito Amor.

RP Passado: Maldito Amor.
Status: RP Fechada
Data de Início: Alguns séculos atrás.
Data de Término: Poucos meses depois do início.
Local: Olimpo, Templo de Afrodite e Submundo (ou não)
Participantes: Hades e Afrodite, com participação especial do Thanatos

O hall Grande Templo. A maioria dos Deuses apenas passava por ali quando não tinha mais o que fazer e queria comer e jogar conversa fora, já que atualmente não existia problemas com feridas e coisas do gênero. Porém, como muitos estavam sempre ocupados com seus afazeres, nem todos apareciam por lá, especialmente os Deuses de outros reinos como Poseidon e Hades. Afrodite gostava de passar por ali para saber como estavam as coisas, as últimas fofocas e tal. Era sempre divertido encontrar novidades.

Ao entrar no Templo, localizou alguns Deuses conversando em um canto, rindo e bebendo, provavelmente do vinho que Dionísio fora proibido de beber, pensara consigo. Sorriu para os que acenaram e intencionou ir até eles, mas algo a fez parar de súbito e arquear as sobrancelhas. Hades estava ali, em outro canto, conversava com Zeus com a expressão inalterada de sempre. Isso era algo inesperado.

Afrodite ficou parada exatamente onde estava por vários minutos. Só voltou a se mover quando Zeus se afastou de Hades, indo em direção aos Deuses no outro canto. Ela, por sua vez, deu um passo a frente e voltou a parar. Sentia vontade de falar com ele, mas não sabia exatamente o que fizer, o que era extremamente raro para uma Deusa como Afrodite.

Pensou que talvez fosse apenas uma curiosidade de saber o que diabos ele estava fazendo ali, ou não. Talvez... Depois de pensar por um tempo que ela percebeu o que realmente estava chamando atenção: Hades não tinha "histórico" na especialidade de Afrodite. Ela sorriu para ele ao vê-lo se aproximar, pois ainda estava na porta de entrada e, consequentemente, de saída.

- Olá, Hades. - Falava tranquilamente, observando-o. - Há quanto tempo não o vejo por aqui. Problemas no Submundo com os quais não está consegue lidar? - Sorriu. - Aposto que não é isso. Você é muito competente em sua área. Mas também não acho que sejam problemas no Olimpo. O que traria o Senhor dos Mortos até aqui?

Afrodite sabia que não era a melhor forma de falar com ele, mas foi o que deu na telha. Só queria tirar dele ao menos uma palavra que fosse.

Irritação contida. Era esse o significado do Olimpo quando era convocado ou tinha aquelas tétricas e inúteis reuniões nos Solstícios, como se ele já não tivesse muito o que fazer em seu próprio reino. Zeus sempre era paranoico com qualquer coisa e, talvez, a inércia dos tempos modernos o tenha feito ficar com mais tempo para pensar coisas banais e sem sentido e alimentar aquela paranoia, simplesmente ahcando que todos eram tão ociosos quanto ele.

Não demorou muito para dar as costas assim que o irmão decidiu-se por satisfeito com todas as suas explicações estritamente lógicas e lineares para provar, de modo bastante cordial, que ele estava se preocupando a toa.

Durante a caminhada para a saída, o grande momento esperado antes mesmo de dar um passo lá para dentro, seus pensamentos já voaram para seus afazeres da rotina, sem contar estar tentando pensar em como resolver os problemas que já previa... começariam a surgir dali a algumas décadas, talvez uns dois o três séculos. Superpopulação de mortais, consequentemente, provocariam uma hora ou outra uma superpopulação de súditos em seus reinos.

"Muito ruim, perspectiva muito ruim...

Porém, foi retirado de seus devaneios quando foi obrigado a parar por ter seu caminho obstruído por algum Deus ocioso. Seus olhos focaram na figura logo a frente que logo se pronunciou:

- Olá, Hades. - a voz macia e naturalmente sedutora de Afrodite veio aos seus ouvidos, enquanto verificava sua imagem. - Há quanto tempo não o vejo por aqui. Problemas no Submundo com os quais não está conseguindo lidar? - seu rosto de uma beleza perfeita mostravam um sorriso de dentes brancos como as nuvens, os olhos azuis-claros pareciam brilhar por conta própria e os cabelos dourados, parecendo fios de ouro, emolduravam as belas feições com uma delicadeza bastante digna para a Deusa do Amor, pensou com certa ironia. - Aposto que não é isso. Você é muito competente em sua área. Mas também não acho que sejam problemas no Olimpo. O que traria o Senhor dos Mortos até aqui?

Suas expressões indiferentes pareceram ser trocadas quase instantaneamente. O sorriso brotou com tanta naturalidade que era quase surreal a facilidade com que tinha vindo, para alguém que tinha acabado de sair de uma pequena reunião indesejável, apesar dela não precisar saber disso. Não era dado a externar sua opinião pessoal, ou qualquer coisa sobre si mesmo, apenas informar fatos de forma lógica e linear e era muito provável que Afrodite devia conhecê-lo ainda menos. Quando trocaram alguma palavra? Talvez nunca?

- Agradeço o elogio mencionado, mas suponho que se Zeus não lhe disse, não serei eu a informá-la. Se desejar alguma informação que possa compartilhar, terei prazer em ajudá-la. - sua voz era bastante macia, mas para os experientes, extremamente vazia. Seus olhos também não tinham qualquer brilho ou emotividade. Verdadeiramente, queria que ela saísse da frente, mas costumava ser educado. Sendo assim os outros Deuses já o pintavam de forma tétrica, sem isso... ah, com certeza, seria considerado pior que a idealização de Lúcifer para os mortais modernos.

Hades sorriu de maneira mecânica, apesar de surpreendentemente agradável. Pelo menos para ela, é claro. Para ele, nunca. E, apesar disso ser claro, ela achou interessante manter essa observação de lado.

- Agradeço o elogio mencionado, mas suponho que se Zeus não lhe disse, não serei eu a informá-la. Se desejar alguma informação que possa compartilhar, terei prazer em ajudá-la.

Era óbvia a intenção dele de sair dali, mas desde quando Afrodite fazia a vontade dos outros? Por alguma razão, ela realmente se interessara em saber mais sobre o Deus que estava a sua frente, sempre reservado, frio, morto e louco para voltar para o Mundo Inferior. Aliás, pensou ela, nunca estive por lá.

- Compreendo. - Respondeu, alargando ainda mais o sorriso radiante. - Há uma informação que você pode me dar, sim. - Ela fixou o olhar nos olhos de diamante, provocante. Talvez não para o lado bom. - O Submundo está sempre aberto para visitantes divinos?

Riu e com uma piscadela travessa, Afrodite se pôs de lado, abrindo caminho para que ele pudesse sair, mas não saiu dali. Ela o acompanharia com os olhos, depois de dar essa indireta de que o visitaria. Ele compreendendo ou não, ela faria exatamente o que queria, pois era assim que agia quando estava intrigada.

Sua experiência e observação do comportamento lhe diziam claramente que, além dela estar realmente pouco interessada no assunto com Zeus, estaria tendo alguma ideia absurda, algo que ele aprendeu se chamar 'farei uma surpresa pra você'.

E ele acreditou estar realmente prestes a receber alguma surpresa com uma margem alta de ser desagradável, vindo de Afrodite. Do Amor ele conseguia esperar qualquer coisa, desde algo impressionante a pior idiotice.

- Há uma informação que você pode me dar, sim. - ela o encarou nos olhos de modo provocante, quase desafiador. Parecendo procurar por alguma coisa lá dentro que não havia - O Submundo está sempre aberto para visitantes divinos? - logo depois, riu enquanto lhe dava espaço para passar.

Ela não sabia onde estava querendo colocar a mão, porém, não era ele que iria advertí-la. Não faria diferença nenhuma para sua existência porque ela tinha decidido repentinamente prestar atenção nela.

Deu um passo para frente, mas no intuito de se aproximar mais dela, curvando levemente o rosto sobre o dela para diminuir bastante a distância.

- Aberto sempre está. Só não posso garantir que seja hospitaleiro. - sussurrou com um sorriso de lado. Ficou um tempo pequeno, mas significativo, a observá-la no olhos, quando se afastou bruscamente. Que perda de tempo era ir ao Olimpo...

Afrodite o observava atentamente, sorrindo traquinas, e sentiu um leve arrepio de frio com a aproximação do Deus dos Mortos.

- Aberto sempre está. Só não posso garantir que seja hospitaleiro.

Ela sorriu e ia dizer algo, mas notou que ele se manteve próximo por mais tempo, então ficou quieta. Tinha algo nos olhos de diamante que eram realmente interessantes. Eram muito intrigantes.

Hades se afastou, parecendo aborrecido, e isso a deixou ainda mais interessada em saber o que se passava naquela mente tão fria e distante. Ela apoiou o corpo na parede ao lado da porta e mordeu o dedão da mão direita, observando-o desaparecer. Iria até o Submundo com certeza. Só precisava decidir quando e, para isso, precisava sondar um pouco a vida do Deus.

A questão era: quem dentre os olimpianos poderia saber sobre ele? Ninguém, é claro. Ou seja, ela precisava fazer contatos inferiores.

[OFF]Cara, isso já ta dando raiva, mas ok. Terceira vez que eu to tentando fazer esse post sem ele ser deletado. ¬¬ Comentando que Thanatos deixou eu usar um pouco o personagem dele aqui na RP, então, só farei um post narrativo[/OFF]

Narrador escreveu:O quarto estava vazio, exceto por uma presença quase inanimada numa cama de casal. A pessoa possuía uma idade avançada e parecia dormir tranquilamente, sem notar a presença que vinha em silêncio até a borda da cama.

A figura parecia adquirir forma humana conforme se aproxiamva cada vez mais da cama. Suas expressões eram benevolentes e olhavam com certa ternura para o senhor. Reclinou-se sobre o corpo, enquanto sussurrava:

- Está na hora de ir.

Thanatos normalmente vinha buscar pessoalmente alguma pessoa que tivesse lhe chamado a atenção mais do que as outras. Claro que cada alma era um indivíduo único e, com cada uma, aprendia algo novo e diferente, mas algumas sempre lhe chamavam mais atenção do que outras. Muitas vezes, porém, também era difícil de escolher entre tantas.

Daquela vez, vinha buscar um coração que vinha sofrendo com a morte da companheira, levada poucos meses antes. Sempre cuidava com carinho desses casos e aquela não seria excessão.

Ok, Afrodite admitia que talvez, mas muito talvez mesmo, estivesse procurando pelo cara errado. Thanatos, filho de Nix, não era necessariamente alguém que gostasse de ajudar os outros. Porém, ela sentia que havia algo de terno nele. Tudo bem que "terno" não parecia ser a palavra exata para a ocasião, mas era o que lhe ocorria no momento.

Afrodite passou a monitorar o Submundo por dois motivos: 1) Queria achar e observar Thanatos e 2) Seria bom conhecer um pouco da rotina de Hades. Era como resolver dois problemas de uma só vez. Óbvio que os dois talvez sentissem sua presença, mas Afrodite duvidava que qualquer um deles iria até ela se ela ficasse bem quieta em seu canto, pelo menos por um tempo.

Hades foi o que ela menos viu, pois ele raramente saía do Submundo, e isso a deixava ainda mais instigada. Thanatos, por sua vez, sempre saía quando algum mortal à beira da morte chamava sua atenção. O que acontecia quase sempre. Talvez essa vontade dele de aprender ou entender aquelas almas fosse justamente a causa do que ela sentia sobre ter algo em Thanatos que a ajudaria. E Afrodite sentiu isso mais forte ao perceber que a pessoa que ele fora buscar desta vez sofria justamente por um amor que havia partido.

Ela o seguiu e o observou falar com o senhor adormecido. Afrodite sentiu a dor que aquele coração sentia. A companheira... Ele sofrera demais com a morte dela. E Thanatos sentia uma espécia de compaixão pela alma sofredora. Ou seja, não estava completamente errada ao eleger Thanatos como seu ajudante naquela missão e essa era a hora certa para falar com ele.

- Boa noite, Thanatos. - Disse, suavemente. - Eu sei que você já sabia da minha presença aqui esta noite, mas vou me apresentar como deve ser feito. - Sorriu para o ser conhecido, entre os mortais, como personificação da Morte. - Sou Afrodite.

Ela sorria para ele não para encantá-lo, mas para ser gentil. Por mais que houvesse diferença entre eles, Afrodite nunca tivera nada contra ele e sentia uma certa admiração, pois ele era o responsável por levar as almas dos mortais para seus devidos lugares e ela via isso como um trabalho a se valorizar e admirar.

Ele parecia poder ouvir uma canção vinda da alma que ele começou a retirar do corpo material. As cores, antes entre cinza e azulado, agora brilhavam em branco resplandecente com tons leves de amarelo. Não resistiu ao ser carregado e permanecia em seus braços, quando, para um pouco do seu espanto, a Deusa que o perseguia decidiu se pronunciar.

Seus olhos negros a observaram atentamente, enquanto se apresentava. Rastreando-a, parecendo olhar através de tudo que ela mostrava superficialmente. Pela primeira vez em sua existência, um Deus, diferente de seu Mestre, tinha interrompido a sua cerimônia particular e isso o intrigou profundamente.

- Muito prazer. - fez uma reverência formal, sem deixar de carregar a alma em seus braços - Devo dizer que, além do meu Senhor, você é a segunda Deusa que posso conhecer pessoalmente. A que devo a honra de interessar-se em meus serviços? - não imaginava um motivo diferente. A única coisa que sabia sobre o restante dos outros Deuses eram de seu egoísmo e pouco interesse nos mortais. Comumente davam bastante trabalho para as Keres, produzindo tragédias naturais.

Não seria o que se pensaria da Morte, mas suas expressões eram bastante delatoras. Eram quase infantis, demonstrando claramente as suas emoções a interrupção dela. Estava intrigado e claramente interessado, não era preciso ser um exímio leitor de comportamento para perceber.

Ainda sorrindo, Afrodite observou a alma que descansava tranquilamente nos braços de Thanatos com ternura. Parecia não mais sofrer.

- Antes de qualquer coisa, meu caro Thanatos, quero lhe agradecer por dar atenção especial a um coração que sofria por um amor que já se foi. - Ela se aproximou, ainda observando a alma, e desfez o sorriso. Falava com seriedade. - É muito admirável de sua parte.

Afrodite levantou os olhos, analisando Thanatos pelos olhos e pelas sensações que sua expressão entregava. Ela com certeza não estaria menos curiosa, no lugar dele.

- Quanto aos seus serviços, eu quero, na verdade, pedir um favor. - Afrodite voltou a sorrir. - Assim como a alma que você carrega em seus braços, sinto que Hades precisa de algo que o faça se sentir... - Ela pensou em "mais vivo", mas não era um bom termo para o Deus do Submundo. - Como posso dizer? - Afrodite corou com seu embaraço para achar o que queria dizer. Seria atraente, se não fosse com Thanatos com quem ela estivesse conversando. - Bom, eu apenas gostaria de mostrar ao seu mestre, ao menos uma vez, o que é ter e ser de uma pessoa, compreende? O que é se importar, se preocupar, se submeter e, ao mesmo tempo, se libertar.

Afrodite ainda observava Thanatos e não gesticulava muito. Esperava que toda a atenção que ele tinha nela o fizesse entender o que ela queria dizer. É claro que ele não diria "Oh, sim, minha linda Deusa!", como qualquer outro faria, mas Afrodite esperava que ele compreendesse a profundidade de sua ideia e não sabia se estava conseguindo transpassar isso. Suspirou.

- Gostaria de fazer com que Hades conhecesse o que é o valor da vida de uma forma que só o Amor pode ensinar. - Afrodite deu de ombros. - É isso. - Ela teve ímpeto de tocar o rosto de Thanatos, mas não o fez. E também não sabia explicar a razão dessa vontade. - Você pode me ajudar? - Perguntou, por fim.

- Antes de qualquer coisa, meu caro Thanatos, quero lhe agradecer por dar atenção especial a um coração que sofria por um amor que já se foi. - sentiu seu rosto corar levemente. Oh, ela tinha reparado. Não era exatamente adaptado a elogios, somente a indiferença e a ignorância completa de seu trabalho. Um dos motivos de tomar tantas liberdades para fazê-lo do seu jeito - É muito admirável de sua parte.

Mas seus olhos brilharam levemente, feliz que fosse notado esse detalhe. Porém, não demorou muito para desaparecer.

- Quanto aos seus serviços, eu quero, na verdade, pedir um favor. Assim como a alma que você carrega em seus braços, sinto que Hades precisa de algo que o faça se sentir... - se pretendia falar alguma coisa, sumiu, enquanto seus olhos arregalavam-se. Seu Senhor era um assunto delicado e seu instinto imediato foi querer fugir. De tudo que sabia, os Deuses o detestavam e não queria dar mais nenhuma arma para que eles o arruinassem mais do que já estava. - Como posso dizer? - Não diga! - Bom, eu apenas gostaria de mostrar ao seu mestre, ao menos uma vez, o que é ter e ser de uma pessoa, compreende? O que é se importar, se preocupar, se submeter e, ao mesmo tempo, se libertar.

Era tudo o que ele temia que ela quisesse. De toda sua experiência com as almas, sabia que o amor era o mais precioso e perigoso sentimento do mundo. O amor sem controle levava famílias a ruína e, apesar de saber que existia a possibilidade de que ocorresse o que aconteceu com aquela alma, não conseguia confiar nela para fazer isso.

Os Deuses são egoístas, Thanatos. Não confie neles, como um dia eu fiz. Enganado pelos meus próprios irmãos. Eles podem ter palavras doces quando querem ou lâminas para destruí-lo. Não confie., o eco da voz de seu Mestre o advertia.

- Gostaria de fazer com que Hades conhecesse o que é o valor da vida de uma forma que só o Amor pode ensinar. É isso. Você pode me ajudar?

Apesar de não querer demonstrar o seu início de pânico, provavelmente fora bastante inútil. Ela queria destruir seu Mestre da forma mais horrível possível, usando a arma mais perigosa e incontrolável. Não, não iria permitir isso. Não iria dar armas para ela usar contra ele. Abaixou os olhos e afastou um passo.

- Desculpe. - forçou-se a tentar manter a calma - Acho que não posso ajudá-la nisso, minha Deusa. - fez uma pequena reverência - So-ou muito ocu... ocupado. - falou aquilo, como se fosse o bastante para ser impedido de fazer qualquer coisa. Comumente, funcionava.

- Compreendo. - Disse, gentilmente. Sabia que, de alguma forma, o que ele sentia era só insegurança e não o culpava por isso. Só Hades e os seres do Submundo sabiam o que passaram e o que passavam. Afrodite sorriu. - Entenda, Thanatos, que não vou desistir e que a minha intenção não é ruim. Ao contrário, é a melhor. Penso que o Senhor dos Mortos só saberia realmente o que é a sua função depois de saber o valor de uma vida, não para ela mesma, mas para todos que a cercam.

Afrodite se afastou e abaixou os olhos para a alma nos braços de Thanatos, e voltou a ficar séria.

- Essa alma em seus braços pensava e era de uma forma antes de conhecer o Amor Verdadeiro. - Ela levantou os olhos para Thanatos. - Mas a vida deste senhor foi outra após conhecê-lo. Para muitos, isso é visto como algo ruim. Mas só quem experimenta a veracidade do Amor puro e intocado sabe o que é realmente. E eu gostaria de provar a Hades que ele NÃO está acima dos poderes do Amor.

Ela suspirou e estendeu a mão para tocar na alma daquele ser que tanto sofrera por amor, mas parou no meio do caminho e levantou os olhos para Thanatos uma última vez.

- Não vou desistir. Seria mais fácil com a sua ajuda, admito, mas não significa que seja impossível. - Sorriu. - Por mais que as pessoas lutem, o Amor as tocará. Mais cedo ou mais tarde. Se você mudar de ideia ou quiser apenas conversar, é só chamar pelo meu nome e virei até você.

Afrodite seguiu para a porta do quarto do senhor, mas parou e olhou para o chão.

- Gosto da harmonia de seus sentimentos, Thanatos.

Com essa última frase pairando no ar, Afrodite saiu pela porta e voltou para seus aposentos no Olimpo. Continuou observando Thanatos, pois sentia que aquela conversa ainda não tinha chegado ao seu ponto final. Também porque sabia que ele poderia contar suas intenções ao próprio Hades. E isso seria realmente interessante.

- Então, era isso... - resmungou Hades, de forma inexpressiva, como sempre, depois de todo o relato feito.

Fazia já alguns dias desde o ocorrido com Afrodite e permaneceu quieto, considerando se seria algo importante ou não ser dito para seu Mestre.

Decidiu que era, relembrando sua voz macia a dizer com confiança: Não vou desistir. Poderia não ser verdade, apenas um blefe, já que ela aparentemente não se encontrava apaixonada, mas não queria seu Mestre em perigo. Ele precisava saber o que o aguardava, ainda que possivelmente pudesse nem vir a acontecer.

- Parece que vou ter que arrumar o meu tabuleiro. - ele suspirou, com ar cansado, como se fosse extremamente tedioso.

- É somente uma Deusa, Mestre. - arrumar o tabuleiro, na linguagem de seu Senhor era como fazer uma declaração de guerra.

- É o Amor encarnado, Thanatos. Só sua existência já é um perigo. Não vou correr riscos desnecessários. - levantou-se de seu trono e já sairia da sala, quando parou e o observou novamente. Atentamente.

As próximas palavras dele foram apenas para deixá-lo naquela situação desconfortável. Se não fosse um pedido de seu amado e respeito Mestre, teria se recusado terminantemente a deixar seus afazeres para... para... enfrentá-la. Não que fosse imprescindível para ele ter que carregar almas, mas com certeza seria algo bem mais agradável.

Gosto da harmonia de seus sentimentos, Thanatos. O que ela queria dizer com isso, afinal? Porque o atormentou tanto por dias e ainda continuava a atormentá-lo?

- Afrodite. - chamou de forma baixa, apesar de ser normal. A Morte não costuma vir de forma espalhafatosa para buscá-lo. Respirou fundo, para esperar, encarando os túmulos logo a sua frente. Parecia um local apropriado. Símbolo de Amor Eterno, o Taj Mahal era um monumento muito belo para se dedicar a morte. Mesmo com mais da metade de suas riquezas roubadas ou trincadas, o lugar continuava com seu esplendor e ali era um ponto especial para ele. Era quase sagrado. Algumas vezes perdia alguns minutos por século a admirar a construção. Tudo era tão lúgubre quando referido ao pós vida que ver algo tão... vivo e alegre era como um pingo de luz na escuridão.

Afrodite sorriu ao ouvir a voz de Thanatos pronunciando seu nome. Era, de certa forma, encantador. Sabia que mais cedo ou mais tarde, ela chegaria onde queria. Ou bem perto.

- Lugar bastante apropriado. - Disse, olhando para as costas de Thanatos, enquanto seu perfume tomava conta do lugar. - Taj Mahal... Traz algumas lembranças. - Ele se virou para ela. - É bom revê-lo. Só achei estranho ter demorado tanto tempo para me chamar. - Observou-o nos olhos. - O que Hades disse, quando você contou sobre nosso encontro?

Ela não era boba. Esperara por essa ação dele desde o dia em que conversaram. Afrodite sabia que ele falaria, assim como ele sabia que ela esperava por isso. Porque será que demorara tanto para se pronunciar? O que será que colocara na balança para se decidir? Por alguma razão, o próprio Thanatos era um tanto instigante, mas não era o seu alvo no momento.

Estava com os olhos nos túmulos, lembrando da vida daquelas duas almas, quando aquele perfume característico invadiu o ar.

- Lugar bastante apropriado. - permaneceu de costas, tomando sua coragem que parecia ter sumido instantaneamente. Queria que o tempo voltasse para trás, quando ela era apenas uma observadora distante de seus passos. Não era uma ameaça. - Taj Mahal... Traz algumas lembranças. - virou-se calmamente, tentando apenas uma vez parecer com seu Mestre, mas foi... bem... falho. Provavelmente eles ainda mostravam a ansiedade e seu estado desconfiado e alerta - É bom revê-lo. Só achei estranho ter demorado tanto tempo para me chamar. - seus olhos pareciam perfurá-lo, mas por sorte, ela entrou em um terreno conhecido e seguro. Sua tensão desvaneceu em alívio quando ela falou: - O que Hades disse, quando você contou sobre nosso encontro?

- Ele disse que... - pensou melhor, antes de falar. Como soaria falar que estava 'declarando guerra'? Obviamente, nada de bom. Ela, afinal, pertencia ao Olimpo e não queria problemas para ele - sua existência é um perigo. - completou, com calma - E que não queria correr riscos.

- Ele disse que... - Thanatos pareceu pesar suas palavras e Afrodite arqueou uma sobrancelha. - sua existência é um perigo. E que não queria correr riscos.

Afrodite sorriu abertamente. Era o esperado de Hades.

- Entendo. Então, ele mandou você para me dar uma espécie de "aviso". - Afrodite se aproximou. - É isso? Hum.

Com uma expressão de seriedade, pensativa, ela caminhou de um lado para o outro, observando os túmulos. Parou diante de um deles e encarou Thanatos com um brilho ofuscante no olhar, fazendo com que os olhos azuis praticamente faiscassem.

- Eu vou até o Submundo. Agora. E você vai comigo. - Ela ponderou se esperava alguma reação dele ou não, mas achou melhor continuar, para pegá-lo no ponto cego de sua insegurança e indecisão. - A menos que queira me ajudar com algumas informações sobre o Senhor dos Mortos. Nesse caso, eu pensarei melhor, já que terei mais informações, sobre descer até o Submundo ou não. Afinal, não é sempre que uma divindade como eu quer se submeter a ir em determinados lugares, não é? - Afrodite se aproximou de Thanatos, com um sorriso amigável. - O que você me diz, meu caro Thanatos? Pode me conceder algumas informações?

Era agora ou nunca. Se ele dissesse "não", provavelmente diria à Hades sobre sua insistência e o Deus ficaria levemente irritado com ela. Por um lado, seria bom, pois ele mesmo iria até ela. Por outro, talvez não fosse tão bom ter todos do Olimpo sabendo sobre sua nova aventura. Estava nas mãos de Thanatos. Porém, o que quer que ele fizesse, a colocaria perto de Hades. Isso já era um ponto a seu favor.

Certo, o plano dele tinha funcionado. Falar a verdade absoluta fez Afrodite entender corretamente o que ele queria: um sinal de alerta. E a próxima frase que Thanatos proferiria era a continuação do plano que Hades tinha arquitetado.

Aquilo não funcionaria, seus pensamentos resmungaram para si mesmo. Deveria ter recusado uma ideia tão insana. Seus olhos abaixaram, como em um sinal de respeito, mas era também um bom método para não mostrar sua horrível tensão. Seu Mestre tinha lhe alertado sobre como era fácil de ler suas expressões e, se fosse possível, escondê-las o quanto pudesse.

- Minha Deusa, não vim aqui apenas para lhe dar o seu aviso. Disse que eu poderia também chamá-la se mudasse de ideia ou se eu quisesse conversar também. Porém, não quero atrapalhá-la, se julga meu Mestre tão importante de sua atenção. Ainda assim, me atrevo a perguntar... poderíamos conversar?

- Minha Deusa, não vim aqui apenas para lhe dar o seu aviso. Disse que eu poderia também chamá-la se mudasse de ideia ou se eu quisesse conversar também. Porém, não quero atrapalhá-la, se julga meu Mestre tão importante de sua atenção. Ainda assim, me atrevo a perguntar... poderíamos conversar?

Afrodite ponderou as palavras de Thanatos para tentar entender o plano dele, ou o de Hades, mas chegou à conclusão de que não tinha pressa. Conversar com ele poderia ser ainda melhor do que correr para o Submundo. Como ter certeza do que ele teria para dizer ou soltar sem querer? Por mais cuidadoso que fosse, algumas vezes as palavras simplesmente escorregam.

- Sou uma Deusa e o que digo, eu faço. - Ela sorriu para ele. - Se você quer conversar, nós conversaremos, como eu disse que faríamos.

Afrodite varreu o local com os olhos, procurando um lugar onde pudessem sentar e conversar tranquilamente. Avistou uma espécie de sala com uma mesa no centro, uma máquina de café e outras coisas mais. Parecia bastante conveniente. Ela indicou o local com a cabeça e os dois seguiram para a sala. Ela sentou em uma das cadeiras estofadas próximas à mesa e esperou que Thanatos se acomodasse.

- Bom, agora... Sobre o que gostaria de falar, meu amigo? - Ela sorriu, carinhosa. - Apesar de não ter desistido do meu plano, podemos conversar sobre o que você quiser e pelo tempo que quiser. Não tenho pressa. É algo em que eu possa te ajudar?

Afrodite não era uma Deusa má. Também não podia ser descrita como a Deusa mais boazinha de todas. O forte dela era o Amor e ela o seguia não importando se era certo ou errado, ou quaisquer que fossem as consequências.

Ela tinha uma aura poderosa, autoritária. Não somente por ser uma Deusa, era... algo diferente. Ela conseguia inspirar respeito pela sua determinação, assim como tinha respeito por seu Mestre de nunca parecer abalado e passar confiança de que tudo pode ser resolvido. Mortais também possuíam esse tipo de aura.

Provavelmente não era nada respeitoso comparar os Deuses com mortais, mas como normalmente ninguém parecia se importar nem mesmo se existia, não parecia haver problema algum. Também, ninguém iria perguntar algo tão absurdo... suas descobertas pareciam bem seguras.

- Sou uma Deusa e o que digo, eu faço. Se você quer conversar, nós conversaremos, como eu disse que faríamos.

Ergueu os olhos, para verificar se fazia aquilo apenas para agradá-lo, mas ela já esquadrinhava o salão. O que estaria procurando? Com um aceno de mão, seguiu com o olhar e descobrir ao que se referia. Queria encontrar um local apropriado para poderem conversar e não relutou em segui-la depois de escolhê-lo.

Porém, assim que adentraram o aposento, sentando-se no lugar indicado, foi como uma mágica. Desde sempre nunca tinha, como diria, tirado algumas férias do serviço. Comumente corria atrás de almas interessantes e observá-las mais de perto. Suas escolhas, decisões, mudanças, evolução. Porém, quase tudo que os mortais criavam o fascinavam.

Inclusive uma simples xícara ou uma cadeira estofada. A xícara pareceu mais interessante.

Seus olhos brilharam animados, quando se aproximou do objeto para estudá-lo. Era estranho, arredondado, cheio de adornos e não fazia ideia para o que servia. Suspeitou que devia ser feito para carregar algum líquido, talvez. Parecia algo como um balde em miniatura, mas mais adornado e bonito. Pegou-o entre as mãos, analisando todo pequeno friso. Para o que será que servia aquela alça estranha e pequena? Ela não deveria estar em cima?

Isso foi até que Afrodite se pronunciou, o que o fez se recompor imediatamente - ou seja, colocando a xícara desajeitadamente no lugar de onde retirara -, lembrando-o que não estava sozinho. Oh, precisava controlar sua animação. Não era como se ela estivesse a metros e metros de distância a observá-lo. Eram apenas alguns centímetros.

- Bom, agora... Sobre o que gostaria de falar, meu amigo? - Ela sorriu, carinhosa. - Apesar de não ter desistido do meu plano, podemos conversar sobre o que você quiser e pelo tempo que quiser. Não tenho pressa. É algo em que eu possa te ajudar?

Ainda se recompunha, lembrando o objetivo. Ela não irá desistir, Thanatos. Sendo assim, seria um grande avanço se você pudesse descobrir como ela pretende fazer isso. Faça o que puder para descobrir. Certo, não... não parecia tão difícil a princípio.

Por onde começaria? Mil perguntas possíveis lhe passaram na mente. Porém, quando abriu a boca...

- Porque agora? - percebeu que talvez aquela pergunta não parecesse muito completa, então decidiu completar - Porque se interessou em fazer ele conhecer o Amor agora?

Afrodite observou Thanatos se encantar com a xícara e, depois, se recompor ao ouvi-la falar.

- Porque agora? - Ele pensou por um instante. - Porque se interessou em fazer ele conhecer o Amor agora?

Ela que ficou observando a xícara dessa vez. Afrodite pegou-a, levou até a máquina de café e preparou um para si. Ela não era uma fã da comida ou da bebida dos mortais, mas sentia vontade de beber algo naquele momento. Talvez só para clarear as próprias ideias... Ou só pra desviar um pouco a atenção de Thanatos. Decidiu preparar um para ele também e levou para ele.

- Bom, Hades apareceu no Olimpo em um dia de especial tédio para mim. - Sorriu. - Sei que isso soa meio egoísta, mas só dispensei atenção para ele por causa disso. - Afrodite voltou a se sentar e passou a observar o líquido negro dentro da xícara. - Com isso, acabei notando determinados sentimentos ocultos que, a meus olhos, estão fáceis de serem trazidos à tona. - Ela sorveu um gole do café e encarou Thanatos. - O Senhor dos Mortos se sente só, mas é orgulhoso demais para admitir ou se deixar sentir.

Afrodite levantou e caminhou até a janela da sala, que dava para o hall onde eles se encontraram. Pensava nas palavras que estava utilizando e nas que viria a utilizar, pois sabia que elas poderiam ser usadas a seu favor ou não.

- Eu, Afrodite, acho que ele precisa conhecer uma coisa nova. Algo que realmente mexa com ele. - Ela olhou para Thanatos, sorrindo. - Penso que Hades precisa conhecer o Amor Verdadeiro para que tudo o que ele faça e tudo o que ele pense ou simplesmente toque esteja impregnado de valor, preocupação e respeito. Diga-me... - Afrodite caminhou até a ponta da mesa. - Você, Thanatos, acha que seu mestre dê o mesmo valor que você às almas que vão até ele? - Ela deu de ombros. - Ele precisa saber o que é se importar e o que é aprender com o outro. E nada ensina melhor do que o Amor.

Com uma incrível força de vontade, não retornou a sua exploração infantil do objeto. Mas seus olhos negros não despregaram dos delicados dedos de Afrodite que manusearam o objeto com bastante naturalidade.

Precisava se concentrar no que ela falava, não na xícara ou seus dedos, repreendeu-se mentalmente. A partir dali, ele concentrou-se na voz bem articulada, de forma concentrada.

Permaneceu em silêncio durante todo o tempo, ouvindo e ponderando o que ela dizia. Sua natureza divina era assim: paciente, calada e, principalmente, pontual. Sempre sabia que havia hora para tudo, as coisas aconteciam no tempo correto e não havia como adiantar ou atrasar. Apesar de não parecer, aquela pergunta era muito importante para ele.

- Você, Thanatos, acha que seu mestre dê o mesmo valor que você às almas que vão até ele? - Ela deu de ombros. - Ele precisa saber o que é se importar e o que é aprender com o outro. E nada ensina melhor do que o Amor.

Era verdade que seu Mestre era extremamente isolado. As companhias mais próximas eram ele próprio e seu cão fiel, Cérberus. Considerando que Cérberus não conseguia lhe dar conselhos, sobraria apenas ele.

- Meu Senhor não pode fazer diferença entre as almas que ele julga, minha Deusa. Cada uma faz suas próprias escolhas e ele apenas irá puni-las de acordo com o que fez com os próprios pés. Também, devido ao grande crescimento de população, ele teve de delegar parte de suas funções a outros. Hoje, tudo que ele recebe em sua Sala de Julgamento são as almas de pessoas realmente más, aquelas onde suas auras já não possuem mais nenhuma cor além do negro. Ele não as julgará com menos severidade por descobrir esse sentimento. Porém...

Ele a observou atentamente, com um ar de maior severidade. Não tinha nenhuma prova de que ela realmente queria fazer aquilo para ajudá-lo, mas tampouco tinha provas do contrário. Ela é o Amor encarnado. Um sentimento lindo, mas que na dosagem errada, era extremamente destrutivo.

- É verdade que ele possui muitos sentimentos que enterra o mais fundo possível em si. E eu... - ficou levemente reticente. Era algo que tinha adquirido com seu Mestre. Nunca revele o que pensa, as palavras vão e voltam. Nem sempre para te reconfortar, mas já era tarde - não acredito que este seja o momento correto para tentar desenterrar.