Jardim de Perséfone

Durante o cativeiro de Perséfone, Hades fez de tudo para agradá-la ao máximo e, sua última tentativa, foi a árdua construção deste imenso jardim que, anteriormente, eram diversos aposentos inúteis. No coração do castelo, um artefato manufaturado por Hefesto e com uma ajuda de Hélios, produziu um Globo Solar que pudesse fazer com que o jardim tivesse luz do sol para manter as plantas vivas.

Pilastras, com plantas e flores a subir por elas até o teto, se estendem pelo aposento para mantê-lo com um teto que é, praticamente, invisível devido a claridade artificial. Apesar de haver paredes por toda a volta, não é possível enxergá-las de tão distantes que se encontram umas das outras e gramados e flores se estendem por todos os lados.

OFF: A imagem é só uma referência da descrição.

Perséfone levantou os olhos, apenas para sentir seus joelhos fraquejarem. As flores a tinham guiado para o local mais belo que já vira. Estava diante um jardim tão imenso que qualquer Deus duvidaria da sua existência no submundo. Pilastras, com plantas e flores subindo por elas até o teto, se estendem pelo aposento. E apesar de haver paredes por toda a volta, não era possível enxergá-las de tão distantes que se encontram umas das outras, ou até mesmo o teto, devido a claridade excessiva, que só Zeus saberia de onde vinha toda aquela luz, não podia ser visto. E gramados e flores...oh Deuses...os gramados e flores se estendem por todos os lados.

Forçou os seus joelhos tremolos a trabalharem e a levarem para frente. Devagar, sem jeito e quase caindo, conseguiu pisar na grama. E a sensação foi tão plena que poderia jurar que aquilo era o suficiente para mante-la viva pelos próximo dias.

Emocionada demais para se manter em pé, se deixou cair sobre suas pernas, apoiando o ombro contra uma das pilastras e esticando a mão para um canteiro próximo. As flores a reconheceram de imediato e quando Perséfone passou, delicadamente, um de seus dedos por um botão de flor, esta se abriu, linda, triunfante, lhe cumprimentando amavelmente.

Aquilo era lindo, perfeito. Um dos jardins mais belos que já tinha visto. E sequer tinha imaginado que poderia ver algo assim no submundo.

Isso tinha feito seu dia valer a pena.

Pode ver, sem nenhum empecilho, quando seus olhos depararam-se com o imenso jardim interno que produzira no coração de seu castelo a custo de vários aposentos inúteis. Não se importava de quebrar todo o seu castelo se isso a agradaria, faria tudo por aquele brilho tão lindo que iluminava seus olhos no momento de reconhecimento.

- Uau! - ela exclamou infantilmente e pode ver que quase cairia.

Seus joelhos estavam muito fracos e teve que controlar outro ímpeto de auxiliá-la, controlado a tempo. Nada de interferências, que não sejam críticas, lembrou-se antes de fazer alguma bobagem e estragar todo o momento de felicidade tão genuína e natural dela. Temia que sua presença pudesse acabar com tudo... como sempre havia sido.

Retirou o Elmo da Invisibilidade, colocando-o em seu Manto Negro novamente. A felicidade dela era tanta, procurando ver todas as flores e espécies que possuía no jardim que não iria notá-lo ali, no limiar da porta que dava para ele.

Não podia deixá-la sozinha com toda aquela fragilidade... porém, não queria se apegar a ela, mais do que já estava, se ela continuasse a se recusar a comer. O que faria?

Continuou a observá-la a caminhar pelo jardim. Feliz, alegre, como sempre a tinha visto através do Espelho, pensou com aquele sentimento quente que as visões dela lhe produziam. Porém, ali, era ainda mais intenso... porque não eram imagens, sua amada Perséfone estava realmente ali a apenas alguns metros de distância, alcançável, alegre por um presente feito por ele.

Alcançável, Hades?, uma vozinha perversa lhe assolou a mente. Olhe como ela fica feliz ao sol... com a flores, vivas e coloridas... as cores mais diferentes que possui é o vermelho-amarelado e o marrom, além do preto e branco.

Olhou para baixo, observando o limiar entre o Mármore Negro do piso e a grama verde e cheia de vida da porta. Você nunca conseguirá passar esta fina linha... e olhe o que ocorre quando a obriga a atravessá-la para o seu lado... é só erguer os olhos e verá o destino dela, tão transparentes quanto taças de cristal, continuava a vozinha perversa em sua mente e sentiu que respirar estava se tornando mais difícil. Demorou para erguer novamente os olhos daquele limiar tão simples de um piso.

É só erguer os olhos...

Perséfone olhou em volta, encantada com a imensidão de flores. É verdade que não variava em muito tons, mas era lindo como um jardim outonal.

Mas no meio de todo aquele encanto, viu um vulto preto, em pé, junto a porta.

Tão sozinho...

...como sua rosa negra...

Hades estava cabisbaixo, entretido com algo em seus sapatos, provavelmente, e tão perdido em sua mente, que deu tempo para que Perséfone se aproximasse sorrateira. O que não era muito difícil para alguém leve como ela.

- Hades..? - encurvou um pouco a coluna, colocando a cabeça de lado, a procura dos olhos dele.

O que será que o entretinha? - pensou com um pequeno sorriso.

Não conseguia, parecia travado naquela fina e ínfima linha que era como uma muralha intransponível.

Bloqueou-se tanto a erguer os olhos e parecer ver Perséfone a tantos quilômetros que não interpretou o farfalhar da grama que se agitava, aproximando de onde estava.

- Hades? - sobressaltou-se e seus olhos atenderam ao chamado instantaneamente. Seus músculos se enrijeceram com a proximidade dela. Já fazia alguns dias que não possuía um contato direto com ela, que não fosse os poucos minutos que a ajeitava na cama e a acordava.

Deu alguns passos para trás, como se algo tivesse lhe atingido o peito com certa força. Apesar de querer desviar os olhos de seu rosto, não conseguia. Ela o observava de uma forma diferente do que era acostumado e era como se pudesse ter uma ilusão dela tão perto.

- Espero que tenha gostado. - conseguiu falar, sem mais nem menos, acrescentando um pequeno sinal, indicando ao que se referia, o jardim - Construí para você. - parecia tão difícil falar as coisas quando as fazia por vontade própria... sem intenções... ele se sentia tão deslocado e sua normal lábia, tão bem treinada pelos milênios, parecia inexistente naquele momento, com ela tão perto, com aqueles olhos curiosos.

Conseguiu, por fim, permanecer com os olhos no jardim iluminado. Um pequeno pedaço do paraíso terreno, em meio ao seu mundo de dores e angústias.

- Eu a libero do castigo hoje. - deu as costas neste momento, sem encará-la - Poderá passear por todo o castelo ou meu reino. - levantou a mão e do chão, a partir de sua própria sombra, apareceu uma cópia dele. Como se sua sombra tivesse ganhado vida. - Minha Sombra Viva irá acompanhá-la onde quiser e a levará onde quiser. Menos - acrescentou rispidamente - para a superfície...

Um espaço de tempo, em silêncio. Desapareceu logo depois.

Tão transparente quanto taças de cristal...

Ele recuou, sem jeito, provavelmente pelo susto que havia lhe dado e Perséfone não conteve um sorriso divertido. Ajeitou a coluna e esperou que ele retomasse a compostura. Não achava que ele era do tipo que apreciava brincadeiras a respeito de suas falhas. Fingiria que nem notou o susto para o bem do relacionamento dos dois. Estava com um ótimo humor graças a ida até o jardim e não pretendia estragá-lo.

Só não entendia porque ele não tinha lhe mostrado aquele lugar antes. Ela teria adorado. Se refugiado ali desde o principio. Mas...talvez fosse algo muito especial e particular. Bom, agora não importava. O importante é que estava ali e isso lhe deixava radiante de novo.

Abriu a boca para perguntar a respeito da história daquele magnifico jardim quando ele continuou.

- Espero que tenha gostado. Construí para você.

Virou para ele, surpresa, e as palavras pareceram simplesmente lhe fugir a mente. Desviou os olhos novamente pra imensidão que era aquele jardim.

Só pra mim...?

Era grande demais pra uma só pessoa. Aquilo era um presente? Porque era a coisa mais bonita que alguém já tinha feito por ela.

Se virou, com ainda mais perguntas a respeito daquilo tudo, mas ele a interrompeu novamente.

- Eu a libero do castigo hoje. - deu as costas neste momento, sem encará-la e uma onda de expectativa tomou conta de seu corpo. Seu ar pareceu fugir-lhe os pulmões. - Poderá passear por todo o castelo ou meu reino. - levantou a mão e do chão, a partir de sua própria sombra, apareceu uma cópia dele. Como se sua sombra tivesse ganhado vida. Ela deu um passo atrás, assustada. - Minha Sombra Viva irá acompanhá-la onde quiser e a levará onde quiser. Menos - acrescentou rispidamente - para a superfície...

Pronto, sua esperança e alegria sumira tão rápido quanto tinha surgido. Conteve as lagrimas e iria implorar para que ele revise aquilo. Ou que ao menos ficasse no lugar de sua sombra. Tinha dias que estava sozinha e a companhia de algo 'não-vivo' não iria ajudar em muita coisa. Aquilo estava lhe deprimindo cada vez mais. Não gostava da solidão. No Olimpo sempre estava cercada de amigos, irmãos, amor e carinho. Ali, tudo era muito sozinho.

Mas antes de externar alguma coisa ele simplesmente, desapareceu.

Suspirou triste. Resignada. E seus ombros caíram cansados.

Se arrastou de volta para as flores e se sentou contra o tronco de uma árvore. Ao seu redor, varias pequenas flores cresceram em torno de suas pernas.

Tudo estava sendo tão... infinitamente... cansativo.... Especialmente os desgastes emocionais que tinha com Hades, estes eram os mais exaustivos.

Olhou enquanto uma flor lentamente, se esforçava para chegar até seus dedos e adormeceu antes mesmo que ela lhe tocasse.

...aqueles dias estavam cada vez mais longos...

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Então esse era o acordo. Perséfone ficaria um tempo no Olimpo e depois retornaria ao submundo, mas eu bem conhecia essa história de sequestro e separação tão bem, também conhecia meu irmão para saber que ele nunca foi de deixar as coisas que tinha irem facilmente assim por seus portões.

Já tinha feitos alguns dias e eu decidira ver como estava Hades, nossa relação era um tanto estranha. Talvez no final eu tinha uma certa simpatia por ele porque ambos não havíamos ficado no glorioso trono do Olimpo...

Sem pedir nenhuma licença adentrei o reino do meu irmão como se fosse uma segunda casa, seu palácio como sempre continuava gélido e vazio. Porém dentro de todo aquele lugar ‘morto’ eu consegui pressentir um pouco de vida, um jardim. Adentrei o jardim e ri baixinho.

- E não é que o besta vez isso mesmo. – murmurei colocando a mão na cintura e observando. Estiquei a mão e meu tridente apareceu, uma leve chacoalhada e gotículas de água caíram sobre as plantas – Calma caçulinha, elas precisavam de água. – disse me virando com um sorriso maroto no rosto e encontrando meu irmão parado a porta.

Andei alguns passos e o observei.

- Você a deixou ir de forma muito fácil. O que acontece, Hades? – fato seja dito, não sou de rodeios ainda mais com o traste do caçula parecendo um dos habitantes do seu reino.

Estava entretido na sua leitura forçada, tentando retornar a racionalidade e ignorar aqueles sentimentos que pareciam lhe remoer o corpo fisicamente - apesar de ter certeza não ter acontecido nada -, sentiu uma presença intrusa em seu castelo. Mais do que intruso, estranhamente já se encontrava no precioso aposento que tinha dado exclusivamente para Perséfone.

Foi instantâneo quando desmaterializou-se do seu quarto para a entrada do jardim, encarando feio as costas de seu irmão mais velho, Poseidon, que apenas atirava água sobre as plantas que andara a cuidar - de muito contra-gosto devido a lembrança da falta de Perséfone - desde a partida do seu tesouro.

- Calma, caçulinha, elas precisavam de água. - ouviu-o dizer e virar-se para a porta para encará-lo.

Como ele, usava uma toga de um verde-azulado que lhe cobria todo o corpo e, em sua mão direita, carregava seu tridente. Apenas o observou de modo mais incisivo, sabendo que não era preciso verbalizar a pergunta antes que seu irmão a respondesse.

- Você a deixou ir de forma muito fácil. O que acontece, Hades? - ele perguntou diretamente, sem rodeios. Por alguma razão, eles andaram se falando mais do que era natural entre ambos naquelas semanas...

Desviou os olhos para um canteiro de flores, processando a pergunta feita por um instante.

- Deméter fez a cabeça de nosso irmão para me obrigar a entregar Perséfone novamente a ela. - resmungou de mau-humor - Poderei tê-la de volta no próximo Outono... seis meses em terra, seis meses aqui. Não foi um acordo que fiz de bom grado, mas foi tudo que consegui dele. Era isso ou nada... e não entrarei em uma guerra contra ele, por uma razão tão ridícula quanto um sentimento.

- Deméter fez a cabeça de nosso irmão para me obrigar a entregar Perséfone novamente a ela.

Virei os olhos isso era bem típico de Demeter.

- Poderei tê-la de volta no próximo Outono... seis meses em terra, seis meses aqui. Não foi um acordo que fiz de bom grado, mas foi tudo que consegui dele. Era isso ou nada... e não entrarei em uma guerra contra ele, por uma razão tão ridícula quanto um sentimento.

Hades costumava ser o mais calmo dos três, isso era um fato que não podia negar. Talvez ele fosse o mais racional, talvez. Meu tridente desapareceu e eu me aproximei do meu irmão colocam ambas as mãos em seu ombro.

- Parece que Eros fez uma visita ao submundo. – ri – O que te atormenta? Não me diga que é só a falta de Persefone, você sempre foi muito racional pra deixar só isso te abalar... – olhei bem nos olhos dele e passei a minha mão por seus ombros.

Era melhor tira-lo daquele jardim antes que eu tivesse que presenciar o senhor dos mortos chorando no meu ombro. O que definitivamente eu não estava disposto a ver, continuamos a caminhar pelos corredores do palácio, quem sabe isso o melhoraria.

[OFF]: não sabia se era pra postar no corredor ou aqui, mas vou postar aqui, os dois saindo, pronto. Dai o próximo é nos corredores. u.u [/OFF]

Sentiu o irmão se aproximar, mas só ergueu os olhos quando as mãos dele pesaram sobre ambos os seus ombros e o observou intrigado com aquele ato tão... íntimo? Não era muito próximo de ninguém, menos ainda dos próprios irmãos. Zeus, porque era extremista e ter de tomar cuidado com cada palavra que era proferida perto dele e Poseidon... bem, porque ele era um implicante chato, onde sua maior diversão era lhe apurrinhar e tentar tirá-lo do sério.

Ele poderia se irritar em algum momento, se não soubesse o objetivo principal do irmão. E não era o tipo que gostava de dar as coisas de bom grado e tão fácil. Então, normalmente evitava falar com ambos apenas para evitar ter que encarar mais problemas e mais tarefas...

Mortais eram muito mais fáceis de lidar...

- Parece que Eros fez uma visita ao submundo. – ele riu da sua desgraça. Era de se esperar... como aquele sentimento poderia ser tão delator? – O que te atormenta? Não me diga que é só a falta de Persefone, você sempre foi muito racional pra deixar só isso te abalar...

Racional, sim... era muito racional...

Sentiu que era guiado para fora do jardim pelo irmão e a visão do mármore aliviou um pouco aquele sentimento da distância. As sensações de corte diminuíram a intensidade conforme se sentia mais perto de onde não havia lembranças de Perséfone.

- Sofro o tormento de sentir. - disse com certa rispidez e mau-humor - Acho que já o sofria com menos intensidade pouco antes de desejar Perséfone como minha... mas depois que ela veio para cá, tudo tornou-se bem pior.

Abriu e fechou a mão como um gesto indicativo de raiva, já que não expressava muita coisa em suas feições, além de um pequeno franzir na testa. Era perceptível que tinha se deixado levar pelos sentimentos ao querer raptar sua futura esposa. Jamais faria algo tão imprudente, ainda que tenha planejado ardilosamente tudo antes para que nada pudesse impedi-lo do intento.

- Isso não pára de contradizer meu raciocínio lógico, influencia nos meus princípios, tem me tirado o sono tranquilo e atrapalhado meu trabalho. Tentei diversas vezes sufocá-lo, mas não consigo. Não sei mais o que fazer... - ele queria que aquela dor parasse. Que voltasse ao seu paraíso de insensibilidade, onde o máximo de sensibilidade que possuía era uma pequena perda de paciência com ignorantes.

Tudo tão mais simples... e sem dor.

Ainda que também sem aquele confortável calor de vida a envolvê-lo.

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